CONGRESSO INTERNACIONAL DE ARTE, CIÊNCIA E TECNOLOGIA
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DIVULGAÇÃO DE PESQUISA CIENTÍFICA - Projeto 0293/2013 - Fundação Municipal de Cultura de Belo Horizonte
Estabilidade versus Instabilidade na Arte Digital:
a relação com espaços Expográficos e Memória.
AGRADECIMENTOS
Esta pesquisa é resultado do apoio e financiamento da Fundação Municipal de Cultura de Belo Horizonte , por meio do Fundo Municipal de Cultura à projetos Culturais. A pesquisa também contou com aporte da FAPEMIG, pelo CNPq, pela PROPPG/UEMG e Escola Guignard (UEMG).
ARTE DIGITAL , INSTABILIDADE E MEMÓRIA
A pesquisa pensou a arte contemporânea, especialmente em sua relação com o digital. Quando tratamos do digital é normal lembrarmos de uma gama de elementos que o campo leva consigo que vão desde os primitivos fios e energia elétrica, ambos ainda no centro do funcionamento de suas máquinas, até as memórias nos discos rígidos que comportam arquivos. A palavra arquivo como sinônimo da manifestação binária da informação disponível nas memórias é um indício da relação entre guardar e esquecer que já existia no mundo pré-digital.
Na Arte contemporânea, um tema recorrente é a preservação e memória das obras de arte. Numerosos pesquisadores, artistas e museus discutem e definem ações de como fazer a preservação da arte contemporânea.
Na arte digital o assunto é também um processo em amadurecimento quanto a conceitos e definições em forma de ação a favor da importância de registro das obras artísticas ao redor do mundo não apenas na materialidade possibilitada pelo audiovisual, mas também na guarda das peças que, muitas vezes, não são apenas realizadas como projeção em paredes e objetos ou para serem vistas em telas de LEDs ou LCD.
A arte digital é uma realidade nas principais galerias, museus e centros de referência artística pelo mundo. Há um grande o número de exposições envolvendo a arte de mídia, os acervos digitais, e a proliferação de festivais de arte que é construída por meios digitais ou eletrônicos.
De acordo com Mark Tribe (apud PERISSINOTTO, 2010), integrante de um projeto de preservação da arte digital denominado 'Arquivando a vanguarda`, para que se evite uma lacuna na história da arte, não se pode permitir a exclusão das novas mídias nesse contexto.
No Brasil, existem importantes exemplos de como os festivais de arte em novas mídias complementam a agenda de arte e cultura no Brasil. Com boa parte desses espaços expográficos concentrada no sudeste brasileiro, podemos citar o FILE – Festival Internacional de Linguagem Eletrônica – com cerca de 10 anos de atuação, o ItaúCibernética e os programas de residência artística e exposições aproximadamente com 9 anos de atuação, o FAD – Festival de Arte Digital – com plataforma de exposições, simpósio e performances com 7 anos de atuação, o programaMultiplicidade, com cerca de 8 anos de atuação, o Art.mov, festival focado em mídias móveis com 6 anos de atuação, o LiveCinema com foco na performance audiovisual com 5 anos de atuação, entre muitos outros projetos de residência artística científica e exploratória bem como pequenas exposições e espaços de fruição de arte por meio de mídias.
Esse breve recorte do Brasil, pode indicar a importância desse tipo de arte e ações culturais contemporâneas não somente no Brasil, mas no contexto internacional.
Apesar de incontestável presença nos circuitos de arte mundiais, a arte digital, assim como foi o processo de reconhecimento da fotografia como campo artístico, ainda está ganhando referências e critério de aceitações como um campo singular nas artes. Desse modo, é um campo que cresce das margens para o centro do circuito artístico, não estando presente como uma hegemonia, possibilitando que pensemos o contexto da arte contemporânea apenas como uma heterogeneidade que, em seu meio, permite a expressão do digital. Por conta dessa realidade percebemos a necessidade da preservação e memória da arte digital como algo a ser incluído – em alguns casos – e fortalecido – em outros – no seu histórico construtivo como algo relevante e urgente, diante dos avanços das mídias que as formam e, no caso deste projeto, passível de estudos.
Os avanços tecnológicos, sejam nos campos físicos da construção de dispositivos (hardwares) ou por questões de evolução da linguagem computacional (programação de softwares), incidem de forma preponderante na continuidade, na adaptação, na inovação e/ou descontinuidade dos trabalhos artísticos desenvolvidos. Assim, no cerne do seu desenvolvimento, a arte digital contempla também seu maior desafio: se manter acessível e existente ao longo do tempo.
Nesse sentido, o estudo discutiu e estabeleceu conceitos nos quais podemos enquadrar as obras de arte digital. Desse modo, compreendemos que as obras de arte digital podem ser agrupadas, por um lado, como estáveis e em contraparte um grupo a ser considerado de obras instáveis, criando uma base de dados para análise que demonstrou as dificuldades quanto a preservação de acervos digitais. A partir disso, buscamos estabelecer parâmetros de estabilidade e instabilidade ao tempo que realizamos a discussão sobre a necessidade da memória e preservação da arte produzida sob os avanços da tecnologia contemporânea.
Na Arte contemporânea, um tema recorrente é a preservação e memória das obras de arte. Numerosos pesquisadores, artistas e museus discutem e definem ações de como fazer a preservação da arte contemporânea.
Na arte digital o assunto é também um processo em amadurecimento quanto a conceitos e definições em forma de ação a favor da importância de registro das obras artísticas ao redor do mundo não apenas na materialidade possibilitada pelo audiovisual, mas também na guarda das peças que, muitas vezes, não são apenas realizadas como projeção em paredes e objetos ou para serem vistas em telas de LEDs ou LCD.
A arte digital é uma realidade nas principais galerias, museus e centros de referência artística pelo mundo. Há um grande o número de exposições envolvendo a arte de mídia, os acervos digitais, e a proliferação de festivais de arte que é construída por meios digitais ou eletrônicos.
De acordo com Mark Tribe (apud PERISSINOTTO, 2010), integrante de um projeto de preservação da arte digital denominado 'Arquivando a vanguarda`, para que se evite uma lacuna na história da arte, não se pode permitir a exclusão das novas mídias nesse contexto.
No Brasil, existem importantes exemplos de como os festivais de arte em novas mídias complementam a agenda de arte e cultura no Brasil. Com boa parte desses espaços expográficos concentrada no sudeste brasileiro, podemos citar o FILE – Festival Internacional de Linguagem Eletrônica – com cerca de 10 anos de atuação, o ItaúCibernética e os programas de residência artística e exposições aproximadamente com 9 anos de atuação, o FAD – Festival de Arte Digital – com plataforma de exposições, simpósio e performances com 7 anos de atuação, o programaMultiplicidade, com cerca de 8 anos de atuação, o Art.mov, festival focado em mídias móveis com 6 anos de atuação, o LiveCinema com foco na performance audiovisual com 5 anos de atuação, entre muitos outros projetos de residência artística científica e exploratória bem como pequenas exposições e espaços de fruição de arte por meio de mídias.
Esse breve recorte do Brasil, pode indicar a importância desse tipo de arte e ações culturais contemporâneas não somente no Brasil, mas no contexto internacional.
Apesar de incontestável presença nos circuitos de arte mundiais, a arte digital, assim como foi o processo de reconhecimento da fotografia como campo artístico, ainda está ganhando referências e critério de aceitações como um campo singular nas artes. Desse modo, é um campo que cresce das margens para o centro do circuito artístico, não estando presente como uma hegemonia, possibilitando que pensemos o contexto da arte contemporânea apenas como uma heterogeneidade que, em seu meio, permite a expressão do digital. Por conta dessa realidade percebemos a necessidade da preservação e memória da arte digital como algo a ser incluído – em alguns casos – e fortalecido – em outros – no seu histórico construtivo como algo relevante e urgente, diante dos avanços das mídias que as formam e, no caso deste projeto, passível de estudos.
Os avanços tecnológicos, sejam nos campos físicos da construção de dispositivos (hardwares) ou por questões de evolução da linguagem computacional (programação de softwares), incidem de forma preponderante na continuidade, na adaptação, na inovação e/ou descontinuidade dos trabalhos artísticos desenvolvidos. Assim, no cerne do seu desenvolvimento, a arte digital contempla também seu maior desafio: se manter acessível e existente ao longo do tempo.
Nesse sentido, o estudo discutiu e estabeleceu conceitos nos quais podemos enquadrar as obras de arte digital. Desse modo, compreendemos que as obras de arte digital podem ser agrupadas, por um lado, como estáveis e em contraparte um grupo a ser considerado de obras instáveis, criando uma base de dados para análise que demonstrou as dificuldades quanto a preservação de acervos digitais. A partir disso, buscamos estabelecer parâmetros de estabilidade e instabilidade ao tempo que realizamos a discussão sobre a necessidade da memória e preservação da arte produzida sob os avanços da tecnologia contemporânea.
OBJETIVOS
O projeto de pesquisa teve por objetivo geral, compreender e analisar a situação contemporânea da arte digital a partir da sua preservação e memória.
A primeira intenção focal de estudo foi sobre o aspecto de obras de arte eletrônica, digital, ou por meio de novas mídias a serem identificadas como obras de arte digital "estáveis". São características de trabalhos pertencentes a essa nomenclatura ou grupo, obras de arte que independente dos processos de construção, programação, funcionamento e interação, sejam consideradas ambientes inalteráveis, independente do tempo cronológico de exposição e da tecnologia embargada em detrimento ao surgimento de novas opções de suporte.
O segundo foco foi delimitar neste estudo as obras de arte digital denominadas como "instáveis". São caracterizados os trabalhos, grupos ou obras de arte que devido as suas características, sejam de suporte tecnológico, programação, construção, e interação, aleatoriamente modificam-se no ambiente onde estão expostas, provocando resultados não esperados e independentes ao longo do tempo cronológico, seja pela descontinuação de suporte, falhas de programação, incompatibilidade executável de meios para específicos fins e propostas ou outras influências internas e externas a elas.
Por fim, o projeto realizou analise teórico-crítica e não somente técnica, da necessidade de manutenção, preservação, e construção de memória dentro do campo da arte digital e a possibilidade de acervos que remontem à história da arte eletrônica, em ambientes programáveis, assim como ocorre em outros campos artísticos. Ainda, problematizou o papel de museus e de curadores em torno da preservação da história da arte digital. Como esses agentes têm se adaptado à dicotomia “obras estáveis” e “obras instáveis” e o que têm feito em relação a estas obras no espaço expográfico.
A primeira intenção focal de estudo foi sobre o aspecto de obras de arte eletrônica, digital, ou por meio de novas mídias a serem identificadas como obras de arte digital "estáveis". São características de trabalhos pertencentes a essa nomenclatura ou grupo, obras de arte que independente dos processos de construção, programação, funcionamento e interação, sejam consideradas ambientes inalteráveis, independente do tempo cronológico de exposição e da tecnologia embargada em detrimento ao surgimento de novas opções de suporte.
O segundo foco foi delimitar neste estudo as obras de arte digital denominadas como "instáveis". São caracterizados os trabalhos, grupos ou obras de arte que devido as suas características, sejam de suporte tecnológico, programação, construção, e interação, aleatoriamente modificam-se no ambiente onde estão expostas, provocando resultados não esperados e independentes ao longo do tempo cronológico, seja pela descontinuação de suporte, falhas de programação, incompatibilidade executável de meios para específicos fins e propostas ou outras influências internas e externas a elas.
Por fim, o projeto realizou analise teórico-crítica e não somente técnica, da necessidade de manutenção, preservação, e construção de memória dentro do campo da arte digital e a possibilidade de acervos que remontem à história da arte eletrônica, em ambientes programáveis, assim como ocorre em outros campos artísticos. Ainda, problematizou o papel de museus e de curadores em torno da preservação da história da arte digital. Como esses agentes têm se adaptado à dicotomia “obras estáveis” e “obras instáveis” e o que têm feito em relação a estas obras no espaço expográfico.
A PESQUISA
Para o desenvolvimento do trabalho de pesquisa, foram realizadas duas etapas. A primeira etapa foi a construção do referencial teórico a respeito da arte através de novas mídias. Foram mensurados os conceitos e referenciais teóricos de autores, pesquisadores, artistas e críticos no aspecto do surgimento e entendimento da arte eletrônica e arte digital (incluindo a questão da interatividade) em conexão com suportes de tecnologia e programação. Quanto aos suportes, estudamos e a cronologia e evolução dos dispositivos computacionais e sua aplicação na arte através de mídia.
A segunda etapa da metodologia aplicada a pesquisa, foram os estudos de caso comparativos de obras de arte digital divididas em dois grupos; estáveis e instáveis. Para tal pesquisa de campo, inicialmente, os pesquisadores tiveram a sua disposição, o banco de dados do FAD – Festival de Arte Digital –, realizado na cidade de Belo Horizonte.
Além do banco de dados, foram analisadas as experiências empíricas nas montagens de obras de arte digital de artistas brasileiros e estrangeiros, realizadas nas edições do festival nos anos de 2007, 2009, 2010, 2011 e 2012. Para a análise dessa empiria foram realizadas entrevistas com curador em arte digital. Essas entrevistas foram realizadas a partir de um questionário semiestruturado o qual foi utilizado para guiar o diálogo com o entrevistado e outros agentes (tais como produtores, artistas e autores dos trabalhos) que se tornaram interessantes para o estudo. Além disso, esses dados receberam tratamento com a ajuda do referencial teórico e analítico da Análise do Discurso (AD).
Também foram selecionadas algumas obras classificadas nos dois grupos de estudo; estáveis e instáveis. Houve a análise documental de fotos, fichas técnicas, vídeos e manuais de aplicação na busca de compilar dados detalhados que sirvam como comparativo de indicadores de análise contextual e técnica. As obras selecionadas foram caracterizadas conforme seus atributos de estabilidade ou atributos de instabilidade.
Desse modo, ao final da pesquisa (12 meses), tivemos a discussão do referencial teórico, pensando os conceitos propostos na pesquisa e a análise de algumas obras que possibilitaram se relacionar com a teoria elaborada.
A segunda etapa da metodologia aplicada a pesquisa, foram os estudos de caso comparativos de obras de arte digital divididas em dois grupos; estáveis e instáveis. Para tal pesquisa de campo, inicialmente, os pesquisadores tiveram a sua disposição, o banco de dados do FAD – Festival de Arte Digital –, realizado na cidade de Belo Horizonte.
Além do banco de dados, foram analisadas as experiências empíricas nas montagens de obras de arte digital de artistas brasileiros e estrangeiros, realizadas nas edições do festival nos anos de 2007, 2009, 2010, 2011 e 2012. Para a análise dessa empiria foram realizadas entrevistas com curador em arte digital. Essas entrevistas foram realizadas a partir de um questionário semiestruturado o qual foi utilizado para guiar o diálogo com o entrevistado e outros agentes (tais como produtores, artistas e autores dos trabalhos) que se tornaram interessantes para o estudo. Além disso, esses dados receberam tratamento com a ajuda do referencial teórico e analítico da Análise do Discurso (AD).
Também foram selecionadas algumas obras classificadas nos dois grupos de estudo; estáveis e instáveis. Houve a análise documental de fotos, fichas técnicas, vídeos e manuais de aplicação na busca de compilar dados detalhados que sirvam como comparativo de indicadores de análise contextual e técnica. As obras selecionadas foram caracterizadas conforme seus atributos de estabilidade ou atributos de instabilidade.
Desse modo, ao final da pesquisa (12 meses), tivemos a discussão do referencial teórico, pensando os conceitos propostos na pesquisa e a análise de algumas obras que possibilitaram se relacionar com a teoria elaborada.
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Quando pensamos em “instabilidade” no campo da computação estamos pensando nas oscilações de funcionamento de determinado processo que está em ou manifesta algum tipo de protocolo de execução. Nesse contexto, que é a base estrutural da arte digital ou computacional, o primeiro ponto de origem da instabilidade são as interfaces, dispositivos ou hardwares. O segundo ponto de origem são os programas, aplicativos (softwares) ou ambientes computacionais programáveis.
Ao considerar “interfaces” os produtos eletrônicos desenvolvidos pela indústria, podem estar associados a esse grupo diversos componentes como: telas de vídeo, câmeras diversas, circuitos, c lusters , discos rígidos, memórias eletrônicas, placas de rede, processadores de silício, unidades de leitura ótica, películas entre muitos outros.
Dados os exemplos, facilmente observamos em nosso cotidiano processos, ambientes e produtos descontinuados, modificados, alterados, híbridos ou que simplesmente deixaram de existir. Geralmente, eles são ocorrências naturais de uma melhora funcional ou econômica onde uns são substituídos por outros por mais eficiência acompanhando uma lógica natural da indústria e do mercado desde a revolução industrial.
No entanto, quando a arte se apropria da tecnologia, os meios e os fins determinados pelo artista se encontram em um tempo diferente, até mesmo por conta da recriação e reutilização de equipamentos e processos tecnológicos para propósitos diferentes de sua originalidade funcional. O artista e sua obra são atemporais aos processos e demandas naturais. Isso nos possibilita pensar que qualquer equipamento tecnológico incorporado pelo artista ao seu fazer transforma aquela tecnologia muitas vezes de ponta em algo potencialmente obsoleto. Em muitos casos essa prática leva a um deslocamento quase mágico do produto útil para uma função que ignora a sua utilização especificada pela indústria.
Eis que temos a instituição, no campo artístico digital, de uma transformação de tudo que é incorporado como algo obsoleto em potência. Esse processo de transformar, no objeto artístico, suas partes tecnológicas em uma potência de obsolescência é uma consequência a esse fazer artístico uma vez que a obra é inserida – ao incorporar os dispositivos digitais ou linguagens de programação up to date – no contexto contemporâneo tecnológico pelo uso de técnicas reconhecíveis ou inovadoras, mas ao mesmo tempo garante que o produto, ao se estabilizar enquanto obra de arte, cria uma condição de imutabilidade tecnológica.
A tecnologia inserida no cotidiano, encontrada em dispositivos de comunicação móveis, nos computadores, nos eletroeletrônicos, nas residências ou nos locais de trabalho, tem por característica principal, a volatilidade (CHABIN, 2000) no que diz respeito às demandas de consumo da sociedade e da capacidade de eficiência a que são propostas. A troca pela nova tecnologia é um processo cíclico natural nesse ambiente.
Nas artes essa efemeridade da tecnologia não deve ser tratada como uma característica principal. Quando escolhida como ferramenta de construção artística e intelectual – principalmente como interface de interação na arte digital – o seu propósito funcional está definido. A não ser que se preveja futuramente melhores respostas na relação homem-máquina, em uma atualização do trabalho autoral, não fará sentido a substituição de um meio por outro. Em alguns casos, a escolha e troca de interfaces ou linguagens por outras mais recentes podem ocasionar a impossibilidade funcional do trabalho artístico proposto inicialmente ou até mesmo o seu extermínio.
Portanto, algumas das noções de instabilidade na arte digital podem ser relacionadas a aspectos tangíveis como o "tempo cronológico" da obra de arte no espaço de exposição, a descontinuidade de linguagens computacionais menos usuais e a constante demanda da indústria de tecnologia em criar e produzir novos produtos a uma geração globalizada ávida pelo consumo. Podemos, ainda, relacionar os problemas de gestão de acervos à falta de referências e normativas entre os diferentes agentes, como artistas, curadores, diretores e técnicos museológicos entre outros.
Em estudos internacionais como nos casos de países como Portugal (JORGE, 2010) e Holanda (DEKKER, 2012) uma constatação é comum: as discussões no campo das práticas por meio de normativas sistematizadas de conservação já estão difundidas e reconhecidas pela sociedade interessada. Portanto, é destacada a necessidade da prática de ações pontuais envolvendo desde os artistas às instituições nesse processo de controle sobre a instabilidade.
Ao considerar “interfaces” os produtos eletrônicos desenvolvidos pela indústria, podem estar associados a esse grupo diversos componentes como: telas de vídeo, câmeras diversas, circuitos, c lusters , discos rígidos, memórias eletrônicas, placas de rede, processadores de silício, unidades de leitura ótica, películas entre muitos outros.
Dados os exemplos, facilmente observamos em nosso cotidiano processos, ambientes e produtos descontinuados, modificados, alterados, híbridos ou que simplesmente deixaram de existir. Geralmente, eles são ocorrências naturais de uma melhora funcional ou econômica onde uns são substituídos por outros por mais eficiência acompanhando uma lógica natural da indústria e do mercado desde a revolução industrial.
No entanto, quando a arte se apropria da tecnologia, os meios e os fins determinados pelo artista se encontram em um tempo diferente, até mesmo por conta da recriação e reutilização de equipamentos e processos tecnológicos para propósitos diferentes de sua originalidade funcional. O artista e sua obra são atemporais aos processos e demandas naturais. Isso nos possibilita pensar que qualquer equipamento tecnológico incorporado pelo artista ao seu fazer transforma aquela tecnologia muitas vezes de ponta em algo potencialmente obsoleto. Em muitos casos essa prática leva a um deslocamento quase mágico do produto útil para uma função que ignora a sua utilização especificada pela indústria.
Eis que temos a instituição, no campo artístico digital, de uma transformação de tudo que é incorporado como algo obsoleto em potência. Esse processo de transformar, no objeto artístico, suas partes tecnológicas em uma potência de obsolescência é uma consequência a esse fazer artístico uma vez que a obra é inserida – ao incorporar os dispositivos digitais ou linguagens de programação up to date – no contexto contemporâneo tecnológico pelo uso de técnicas reconhecíveis ou inovadoras, mas ao mesmo tempo garante que o produto, ao se estabilizar enquanto obra de arte, cria uma condição de imutabilidade tecnológica.
A tecnologia inserida no cotidiano, encontrada em dispositivos de comunicação móveis, nos computadores, nos eletroeletrônicos, nas residências ou nos locais de trabalho, tem por característica principal, a volatilidade (CHABIN, 2000) no que diz respeito às demandas de consumo da sociedade e da capacidade de eficiência a que são propostas. A troca pela nova tecnologia é um processo cíclico natural nesse ambiente.
Nas artes essa efemeridade da tecnologia não deve ser tratada como uma característica principal. Quando escolhida como ferramenta de construção artística e intelectual – principalmente como interface de interação na arte digital – o seu propósito funcional está definido. A não ser que se preveja futuramente melhores respostas na relação homem-máquina, em uma atualização do trabalho autoral, não fará sentido a substituição de um meio por outro. Em alguns casos, a escolha e troca de interfaces ou linguagens por outras mais recentes podem ocasionar a impossibilidade funcional do trabalho artístico proposto inicialmente ou até mesmo o seu extermínio.
Portanto, algumas das noções de instabilidade na arte digital podem ser relacionadas a aspectos tangíveis como o "tempo cronológico" da obra de arte no espaço de exposição, a descontinuidade de linguagens computacionais menos usuais e a constante demanda da indústria de tecnologia em criar e produzir novos produtos a uma geração globalizada ávida pelo consumo. Podemos, ainda, relacionar os problemas de gestão de acervos à falta de referências e normativas entre os diferentes agentes, como artistas, curadores, diretores e técnicos museológicos entre outros.
Em estudos internacionais como nos casos de países como Portugal (JORGE, 2010) e Holanda (DEKKER, 2012) uma constatação é comum: as discussões no campo das práticas por meio de normativas sistematizadas de conservação já estão difundidas e reconhecidas pela sociedade interessada. Portanto, é destacada a necessidade da prática de ações pontuais envolvendo desde os artistas às instituições nesse processo de controle sobre a instabilidade.
ALGUNS RESULTADOS
Especialmente no contexto brasileiro, a arte digital e sua dimensão de preservação e memória se encontram no “limbo” das discussões sobre as artes e seus acervos. Isso ocorre em uma realidade de várias iniciativas de eventos, festivais, premiações, residências artísticas e editais públicos de cultura, surgidos ao longo da última década (GASPARETTO, 2014), abrangendo a arte digital.
De volta ao objetivo de nossa pesquisa na discussão da estabilidade e instabilidade de obras de arte digital e sua dimensão para os espaços de exposição e curadores, é possível afirmar algumas questões comuns, independente de onde estejamos atuando. Após compreender a arte digital como campo, e as suas especificidades enquanto modelo de criação e exposição, temos um dilema comum a todos os estudos da sua preservação e memória: para o bem ou para o mal estamos sempre tratando de dados informacionais qualitativos e quantitativos, e a íntima relação com os sistemas e ciência da informação não são meras condicionalidades para sua perpetuação enquanto dado passível de acesso.
Percebemos que entre as inúmeras iniciativas e práticas de arquivamento, por meio de normativas mundialmente discutidas e difundidas (como as do Archiving AvantGarde, ou aquelas holandesas ou portuguesas), em sua grande maioria há uma relação muito profunda com critérios objetivos e tecnicistas, como a indexação efetiva para o público específico e o público amplo, que buscam tais informações em diferentes níveis de exigência e interesse. Utilizase como parâmetros para a preservação da “essência” das obras artísticas: o impacto sobre seu público, por meio de arquivamento (fotos, vídeos, áudio, relatos e manuscritos) de opiniões sobre a interatividade de vários dos interatores em contato com a obra; e a salvaguarda ocorrendo de modo a impactar o mínimo possível sobre o conceito e desejo do artista criador da obra.
É preciso lembrar que este estudo, para determinação e certo combate da instabilidade na arte digital, previa aspectos relacionados às anomalias de linguagem de programação (softwares) e suportes físicos descontinuados (hardwares), e também a certa ingenuidade e/ou imperícia artística sobre a técnica, ou das apropriações inesperadas por meio de erros não usuais provenientes do “não controle” da arte digital sobre suas interações e interatores. Sabemos, neste momento, que esses aspectos não definem por si a estabilidade ou instabilidade de obras, mas são elementos complementares da análise.
As questões da estabilidade e instabilidade não se limitam ao funcionamento e correta migração, emulação, “refreshing” ou reprodução física no espaço museal. Tais termos poderão ser melhor compreendidos através da produção científica dos artigos e estudos da pesquisa.
Outro aspecto importante relacionado a estabilidade e instabilidade seria a sua capacidade de acesso ao longo do tempo, enquanto informação curatoriada de uma sociedade que por fim, escolheu por sua perpetuação. Essa seria a memória em movimento dessa sociedade.
Foi percebido em alguns estudos, por exemplo, que artistas digitais não têm estabelecido um padrão de uso de linguagem programáveis por meio de programas não “proprietários”. Ao ponto que, por parte dos desenvolvedores que trabalham conjuntamente no desenvolvimento de plataformas livres, não há um consenso sobre a importância de manterem as bases programáveis, permitindo de forma sequencial e cronológica que “produtos” sejam desenvolvidos para um período atemporal no mundo do free and open source software (FOSS). Do lado dos espaços museológicos e de exposição surgem conflitos estruturais e certa confusão de seus objetivos que na verdade dependeriam de uma revisão institucional sobre suas ações, suas atividades, e suas funções enquanto espaços de difusão e conservação para se transformarem também em espaços de acesso informacional.
Reforça-se que cada projeto e cada entidade e país, acabarão por adotar suas metodologias, como base nos bem sucedidos projetos em andamento, sendo primordial que se antecipe ao máximo questões primárias de contexto, importância, cultura, e necessidade atendendo as demandas da “arte digital”.
De volta ao objetivo de nossa pesquisa na discussão da estabilidade e instabilidade de obras de arte digital e sua dimensão para os espaços de exposição e curadores, é possível afirmar algumas questões comuns, independente de onde estejamos atuando. Após compreender a arte digital como campo, e as suas especificidades enquanto modelo de criação e exposição, temos um dilema comum a todos os estudos da sua preservação e memória: para o bem ou para o mal estamos sempre tratando de dados informacionais qualitativos e quantitativos, e a íntima relação com os sistemas e ciência da informação não são meras condicionalidades para sua perpetuação enquanto dado passível de acesso.
Percebemos que entre as inúmeras iniciativas e práticas de arquivamento, por meio de normativas mundialmente discutidas e difundidas (como as do Archiving AvantGarde, ou aquelas holandesas ou portuguesas), em sua grande maioria há uma relação muito profunda com critérios objetivos e tecnicistas, como a indexação efetiva para o público específico e o público amplo, que buscam tais informações em diferentes níveis de exigência e interesse. Utilizase como parâmetros para a preservação da “essência” das obras artísticas: o impacto sobre seu público, por meio de arquivamento (fotos, vídeos, áudio, relatos e manuscritos) de opiniões sobre a interatividade de vários dos interatores em contato com a obra; e a salvaguarda ocorrendo de modo a impactar o mínimo possível sobre o conceito e desejo do artista criador da obra.
É preciso lembrar que este estudo, para determinação e certo combate da instabilidade na arte digital, previa aspectos relacionados às anomalias de linguagem de programação (softwares) e suportes físicos descontinuados (hardwares), e também a certa ingenuidade e/ou imperícia artística sobre a técnica, ou das apropriações inesperadas por meio de erros não usuais provenientes do “não controle” da arte digital sobre suas interações e interatores. Sabemos, neste momento, que esses aspectos não definem por si a estabilidade ou instabilidade de obras, mas são elementos complementares da análise.
As questões da estabilidade e instabilidade não se limitam ao funcionamento e correta migração, emulação, “refreshing” ou reprodução física no espaço museal. Tais termos poderão ser melhor compreendidos através da produção científica dos artigos e estudos da pesquisa.
Outro aspecto importante relacionado a estabilidade e instabilidade seria a sua capacidade de acesso ao longo do tempo, enquanto informação curatoriada de uma sociedade que por fim, escolheu por sua perpetuação. Essa seria a memória em movimento dessa sociedade.
Foi percebido em alguns estudos, por exemplo, que artistas digitais não têm estabelecido um padrão de uso de linguagem programáveis por meio de programas não “proprietários”. Ao ponto que, por parte dos desenvolvedores que trabalham conjuntamente no desenvolvimento de plataformas livres, não há um consenso sobre a importância de manterem as bases programáveis, permitindo de forma sequencial e cronológica que “produtos” sejam desenvolvidos para um período atemporal no mundo do free and open source software (FOSS). Do lado dos espaços museológicos e de exposição surgem conflitos estruturais e certa confusão de seus objetivos que na verdade dependeriam de uma revisão institucional sobre suas ações, suas atividades, e suas funções enquanto espaços de difusão e conservação para se transformarem também em espaços de acesso informacional.
Reforça-se que cada projeto e cada entidade e país, acabarão por adotar suas metodologias, como base nos bem sucedidos projetos em andamento, sendo primordial que se antecipe ao máximo questões primárias de contexto, importância, cultura, e necessidade atendendo as demandas da “arte digital”.
RESULTADO EM NÚMEROS
ALGUNS DOS ARTIGOS PUBLICADOS
A pesquisa gerou alguns produtos* práticos e teóricos. Segue abaixo alguns destes produtos para Download. Os mesmos estão disponíveis nos seguintes endereços eletrônicos:
Grupo de Pesquisa LAB |Front (Coord. Dr. Pablo Gobira)
Pesquisador Tadeus Mucelli
* Outros artigos encontram-se em via de publicação e serão disponibilizados assim que forem autorizados e vinculados aos eventos e anais pertencentes.
Grupo de Pesquisa LAB |Front (Coord. Dr. Pablo Gobira)
Pesquisador Tadeus Mucelli
* Outros artigos encontram-se em via de publicação e serão disponibilizados assim que forem autorizados e vinculados aos eventos e anais pertencentes.
EVENTO
Foi desenvolvido no período da pesquisa, atividades geradoras de novas plataformas de busca de dados para o tema da preservação, memória digital, e curadoria.
Essa atividade em consequência da pesquisa teve por objetivo geral compreender, analisar e documentar a situação contemporânea brasileira da arte digital audiovisual de forma inédita em Minas Gerais, por meio de eixos temáticos apresentados e por meio da participação dos profissionais diversos, entre eles, artistas, autores, pesquisadores, curadores e gestores museais no país. |
AÇÕES NACIONAIS & INTERNACIONAIS
A preservação de patrimônio digital tem sido discutida em diversos países preocupados em garantir uma importante parte histórica da memória da arte contemporânea do século XXI. Holanda, Alemanha, Áustria, Inglaterra e Canadá, se destacam pelas iniciativas pioneiras de contextualização, pesquisa e aferição de possíveis técnicas de preservação e conservação por meio de instituições de pesquisa, museológicas, acervísticas e center medias.
Um dos principais projetos desse campo é o "Arquivando a Vanguarda" que envolve agentes como a Berkeley University, o Guggenheim Museum, e o ZKM Museum, o Ars Electronica, NIMk, EAI, V2 Lab e C3 engrossam a lista de instituições com atuação específica sobre a ótica “digital” a partir da década de 1980.
Os pesquisadores realizaram em 2014 um WorkShop Visit, no ARS ELECTRONICA CENTER em Linz - Áustria, conhecendo os acervos, pesquisas e trabalhos de projetos em desenvolvimento em um dos principais center medias do mundo. Na oportunidade foi possível conhecer membros pesquisadores e gestores de outros institutos de pesquisa do Holandês V2 LAB.
No Brasil, as ações pioneiras estão em torno do Encontro Internacional de Arte e Tecnologia (UNB), Simpósio Futuros Possíveis, FILE-SP, Festival de Arte Digital (FAD), entre outras ações.
Um dos principais projetos desse campo é o "Arquivando a Vanguarda" que envolve agentes como a Berkeley University, o Guggenheim Museum, e o ZKM Museum, o Ars Electronica, NIMk, EAI, V2 Lab e C3 engrossam a lista de instituições com atuação específica sobre a ótica “digital” a partir da década de 1980.
Os pesquisadores realizaram em 2014 um WorkShop Visit, no ARS ELECTRONICA CENTER em Linz - Áustria, conhecendo os acervos, pesquisas e trabalhos de projetos em desenvolvimento em um dos principais center medias do mundo. Na oportunidade foi possível conhecer membros pesquisadores e gestores de outros institutos de pesquisa do Holandês V2 LAB.
No Brasil, as ações pioneiras estão em torno do Encontro Internacional de Arte e Tecnologia (UNB), Simpósio Futuros Possíveis, FILE-SP, Festival de Arte Digital (FAD), entre outras ações.